O Chat GPT e as escolas

De acordo com uma reportagem da CNN, escolas americanas de Ensino Médio têm contratado profissionais para ensinar professores e alunos a como trabalhar com sites de inteligência artificial. A justificativa é que a ferramenta tem suas utilidades na educação (cf. https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/inteligencia-artificial-escolas-americanas-estao-ensinando-alunos-a-usar-o-chatgpt/).

         Em geral, é esperado de qualquer ferramenta que ela ajude a desempenhar uma tarefa. O temor óbvio dos professores com uma ferramenta que se preste a ajudar em tarefas cognitivas (que envolvem processamento de informação) é que ela seja usada para fazer a tarefa em vez de ajudar o aluno a fazê-la.

         Essa é uma importante ironia a ser considerada. Quando lemos alguns dos teóricos que são considerados “pais” da inteligência artificial, como Marvin Lee Minsky, por exemplo, vemos que a programação desses robôs capazes de fazerem processamento de linguagem natural, como o chat GPT, avançou muito conforme os cientistas desenvolveram premissas da psicologia cognitiva. Para citar um exemplo: a importância do processamento de informações no desenvolvimento de tarefas cognitivas como armazenamento, memorização, pensamento, raciocínio e solução de problemas. A ironia está justamente no fato de que estamos desenvolvendo máquinas mais “inteligentes”, para usar as palavras de Greg Brockman, diretor da Open AI que lançou o chat GPT, concebendo-as como “crianças” de quem estamos cuidando dando informações e correções de informações (cf. TED Talk The inside story of ChatGPT’s astonishing potential).

         Sem sair do óbvio, mais importante do que se uma ferramenta será ou não usada, pode ou não nos ajudar, está o fato de que as escolas, sobretudo, precisam ser instituições que cuidam de crianças de verdade, em vários aspectos, inclusive dando e corrigindo informações, para que elas desenvolvam mais do que inteligência: desenvolvam convivência, consciência, convicções, criatividade, carisma, entres tantas outras coisas.

  A Bíblia, há tempos, ensina, conforme lemos no Salmo 20.7, que não devemos confiar nas ferramentas e demais recursos afins (desde os carros e cavalos) para perseverarmos apesar das dificuldades da vida, mas no fato de que, como seres criados à imagem e semelhança de Deus, temos como aprender com Ele o que somos, o que podemos fazer e como, para nos tornarmos mais humanos.

Se nos lembrarmos disso, estamos confiando em quem, desde o início, está nos conferindo humanidade, para que tenhamos, até mesmo, condição de desenvolver ferramentas e lidarmos com os trabalhos do dia a dia. Mas, se, por acaso, confiarmos que teremos máquinas ou ferramentas para fazerem tudo em nosso lugar, e que é melhor investirmos nosso tempo e dedicação em ensiná-las em vez de ensinar as pessoas, aí, talvez, haja algo menos óbvio a que temer.

Noemih Sá Oliveira é Coordenadora de preparação e revisão do SME.