É comum alguns alunos afirmarem que não conseguem aprender apesar das muitas horas que empregam no estudo. Outros dizem que não são inteligentes e que não conseguem aprender. Esse pensamento é incorreto e muito prejudicial à vida escolar. Carol Dweck, psicóloga da Universidade de Stanford, chama esse fenômeno de mentalidade fixa: pensar que as pessoas nascem ou não inteligentes, quando, na verdade, a inteligência é uma habilidade adquirida e influenciada por diversos fatores.
Segundo a Neurociência, o cérebro humano pode se adaptar e mudar de acordo com os diferentes estímulos e experiências recebidas. Dessa forma, pode-se afirmar que as pessoas continuam aprendendo durante toda a vida.
O avanço da tecnologia trouxe inúmeros para educação, mas também trouxe alguns desafios. Quando refletimos sobre o ato de estudar, é perceptível que o rápido acesso à informação teve como consequência a formação de alunos mais propensos a busca por respostas imediatas, em vez de se engajarem em rotinas de estudo. Dessa forma, pode-se dizer que há muita informação e pouco conhecimento.
É importante encontrar um modelo de estudo que reconheça o perfil atual dos estudantes, mas que, ao mesmo tempo, não proporcione apenas a compreensão superficial dos conteúdos, o que gera uma memória operacional, ou seja, um armazenamento das informações num período curto.
A seguir, conheça três passos para a organização de uma rotina de estudo e aprendizagem.
1. Defina metas. As metas precisam ser desafiadoras, mas também alcançáveis para que o aluno não desista diante dos primeiros desafios. Pense e registre o que pretende estudar, quando, onde e por quanto tempo.
Entender e registrar pensamentos, criando um planner semanal ou mensal, torna as metas mais claras, aumenta a motivação e permite uma maior avaliação do que dá certo ou não durante um período.
2. Ambiente confuso, mente confusa. Organizar seu ambiente de estudo é essencial. A organização permite mais ânimo e melhor aproveitamento do tempo disponível. Por isso, antes de começar a estudar, separe todo o material que precisa e busque um local bem iluminado e sem distratores.
“Quando você organiza e visualiza seu dia, seu cérebro se prepara e já funciona para as tarefas que se seguirão; em particular, nele instala-se uma espécie de cronômetro biológico que estabelece um ritmo: os trabalhos, assim, são realizados com maior rapidez e de maneira mais eficaz, mas também de modo mais gratificante, pois você sabe para onde está indo, o que reforça sua autoconfiança.” (COÉFFE, 1996, p. 90).
3. Mais do que um estilo. É incorreto pensar em um único estilo de aprendizagem: verbal, escrito ou cinestésico. Foi comprovado cientificamente que a combinação de dois ou mais estímulos torna a aprendizagem mais eficiente. Além disso, constatou-se que a imagem sempre se sobrepõe a qualquer outro estímulo. Ao definir como estudar, é essencial que faça uso de estratégias que sempre envolvam imagens e outro estímulo, promovendo assim a dupla codificação.
Agora é o momento de identificar 5 estratégias de estudo que ajudarão a melhorar a compreensão e a assimilação dos conteúdos.
Mapa mental. Criados por Tony Byzan, os mapas mentais ajudam a organizar informações de maneira visual, facilitando a compreensão e a relação entre as ideias. Ao elaborar seu mapa mental o estudante precisa criar conexões entre o que foi lido, assimilado e suas conclusões, para então registrar de forma criativa e suscinta. O uso das imagens, cores, palavras-chave contribuem para que os conceitos mais complicados sejam compreendidos de forma mais simples e objetiva.
Para aumentar a eficiência da técnica, sugere-se sempre a elaboração de dois mapas mentais para cada tema. Após criar o primeiro e se apropriar dele, o aluno deve guarda-lo e fazer outro sem consulta, tentando apenas relembrar os pontos escritos anteriormente. O primeiro mapa mental retrata a memória operacional do aluno, e o segundo, a memória de longo prazo.
Ensine alguém. Para aprender sobre um assunto, ensine alguém sobre ele. A estratégia é eficiente porque antes de ensinar, o aluno terá de se apropriar do conteúdo de forma passiva, depois terá de elaborar conexões entre os conteúdos novos e os já existentes, para então buscar estratégias que lhe ajudarão a transmitir o que foi aprendido. Essa técnica permite reforçar as conexões mentais: toda vez que o aluno se apropria das informações e as repassa, aumenta as atividades neurais. Se não tem com quem estudar, também vale a leitura em voz alta ou fingir que está explicando o tema, de forma clara e suscinta, para um personagem imaginário.
Técnica de mnemônica. Essa técnica ajuda a associar informações complexas a elementos mais simples e fáceis de lembrar.
Um exemplo popular é elaborar uma frase cujas iniciais das palavras começam com as letras iniciais dos nomes dos planetas, para lembrar seus respectivos nomes e ordem que aparecem no sistema solar: Minha Velha Traga Meu Jantar Sopa Uva Nozes (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno).
Desta forma o aluno faz ganchos criativos que facilitam a lembrança de alguns temas. Essas associações podem ser feitas com acrósticos, rimas ou canções.
Estudo intercalado X estudo intensivo. É comum que os alunos digam que tiveram um “branco” na prova, apesar de terem estudado. Muitas vezes isso acontece porque estudaram determinado assunto de maneira intensiva, e isso gerou uma sobrecarga da memória de trabalho.
Para alcançar a memória de longo prazo é importante que o estudo seja intercalado, ou seja, o aluno deve alternar, durante o período de estudo, diferentes componentes ou assuntos.
Se o estudante definiu 2 horas de estudo por dia, ele deve dividir esse tempo em períodos com intervalos entre eles. A definição do tempo de estudo e intervalos irá variar de acordo com a faixa etária do aluno.
Colocar à prova. Após o estudo passivo e a aplicação de uma ou mais estratégias descritas anteriormente, agora é hora de colocar à prova seus conhecimentos realizando um teste ou exercícios sobre conteúdo atual e de outros já estudados anteriormente. Desta forma, o cérebro será novamente acessado para transformar o que aprendeu em memória de longo prazo. Caso perceba, enquanto faz os exercícios, que algumas lacunas ficaram, este é o momento de retomar suas anotações, leitura e repetir as estratégias já feitas.
Fazer exercícios, ao validar e testar a aprendizagem dos conteúdos, tira o aluno do estudo passivo, uma vez que ele deverá buscar em seu cérebro as informações das que precisa.
O cérebro só memoriza um conteúdo quando entende que ele será útil em outros momentos. Um exemplo disso ocorre com a memorização do número do RG: a repetição diz ao cérebro que essa informação precisa ser armazenada, pois precisará ser “acessada” diversas vezes. Desta forma, quando alguém pergunta seu número de RG, você é capaz de dizer de forma rápida e automática.
Em minhas orientações de estudo proponho que, além do acesso às informações do professor na sala de aula e estudo passivo em casa, é importante que o aluno busque outras estratégias para ativar o cérebro. O mesmo conteúdo acessado de diferentes formas e linguagens aumenta a probabilidade de compreensão.
Quero ressaltar que, ao fazer uma prova, é importante que o aluno confie nas suas estratégias de estudo e no desempenho atribuído, do contrário, poderá apresentar questões emocionais que lhe trarão prejuízos, como: bloqueio mental, raciocínio ineficiente e autocrítica excessiva.
Esteja certo de que fez o seu melhor e boa sorte!
Bibliografia
CASTRO, M. Claudio. Você sabe estudar? Quem sabe, estuda menos e aprende mais. Porto Alegre: Penso. 2015. COÉFFÉ, Michel. Guia dos métodos de estudo. São Paulo: Martins Fontes. 1998
Alves, Diego – Trabalho de pesquisa: Um olhar sobre as formas de estudo. Instituição UNIFACEF. 2017
Andrade, Mateus – A neurociência da aprendizagem.