Como abordar o estudo do meio ambiente em sala de aula dentro da cosmovisão cristã?

Desafio lançado! Você, professor de Ciências, Química, Biologia e Geografia que em seu plano curricular trabalha essa temática interdisciplinar, tem a missão de, dentro de um cenário midiático turbulento e ideologizado, garimpar o que se tem de conhecimento científico sério e fazer a ponte para que, a partir dos conhecimentos prévios dos alunos, conceituar e sistematizar o aprendizado para que, como cidadãos, os estudantes tenham bagagem que os forneça condições de dialogar de uma forma crítica e aplicada à vida quanto as responsabilidades que esses conhecimentos trazem a nós como seres criados a imagem de Deus para “cultivar e guardar” esse mundo (Gênesis 2.15).

Apesar da complexidade apresentada, entendo ser um dos conteúdos que mais podemos relacionar de imediato a cosmovisão cristã pois, ao estudarmos o planeta Terra e suas dinâmicas, em todas as escalas, é possível perceber a beleza da criação de um mundo perfeito na qual há todo um “projeto inteligente” em que nos deparamos com o milagre de um planeta projetado especificamente para que houvesse uma diversidade de vida complexa e interdependente.

Embora deslumbremos dessas maravilhas a serem descobertas e contempladas, vemos tanto na revelação geral (a criação) como na especial (as Sagradas Escrituras) que aconteceu algo após a criação, essa mesma que foi certificada por Deus com o selo máximo de qualidade “e viu que era muito bom” (Gênesis 1.31), de que existem certos desequilíbrios que não faziam parte do projeto original. Chamamos isso de Queda. Em Gênesis 2.17 lemos que Adão, ao desobedecer a Deus, trouxe consequências não só para ele e sua família, mas também para nós por ser ele nosso representante, fazendo com que herdássemos o resultado de sua transgressão (o salário do pecado é a morte – Romanos 6.23), inclusive a terra se tornou maldita por causa do homem que, com muito sofrimento, iria obter seu sustento num solo que produziria agora não só coisas boas, mas também espinhos e ervas daninhas.

Além desse fator que nos ensina o porquê vemos tanta desarmonia no meio ambiente, esses problemas ainda são intensificados pela atitude egoísta do ser humano na exploração e utilização despreocupada dos recursos naturais, sem pensar nos efeitos danosos para outras espécies (fauna e flora) nem para as gerações futuras. Além do que, o estilo de vida materialista e consumista também trazem impactos sociais pois, se de um lado temos recursos que são desperdiçados, do outro temos seres humanos em situação de miséria, desprovidos do mínimo para se viver com dignidade, o que aumenta ainda mais a ira de Deus que se revela do céu contra toda impiedade dos seres humanos que suprimem a verdade pela injustiça (Romanos 1.18).

Durante a preparação do professor para ministrar essas aulas, é importante incentivar os alunos a enxergarem sua realidade, seu dia a dia como ancoragem para o aprofundamento dos estudos. Para aqueles que moram nos grandes centros urbanos por exemplo, podemos trabalhar a questão das enchentes a partir do impacto social e entender como funciona o ciclo hídrico de vazão dos rios e de suas margens alagáveis como fenômenos naturais e de que forma o planejamento urbano em construir próximo desses locais conhecidos por seus transbordamentos previsíveis, podem gerar grandes problemas para a população que, por não terem sido avaliados de forma técnico científica mas, de uma maneira mais a atender a lógica da especulação imobiliária, trazem consequências negativas a comunidade devido à falta de sabedoria em aplicar o conhecimento adquirido devido a ganância em se obter ganhos imediatos em detrimento do que aprendemos no Sermão do Monte, na qual Jesus nos fala que o homem prudente edificou a sua casa sobre a rocha (Mateus 7.24).

Usar notícias de jornal atrelando os problemas apresentados nas reportagens com o ciclo natural das águas, ajuda os estudantes a entenderem que, com conhecimento científico e um bom planejamento, é possível evitar muitas tragédias pois, o entendimento do funcionamento da dinâmica geográfica aliada à tecnologia pode mitigar o impacto e a probabilidade dessas ocorrências até certo ponto. O que é diferente de uma visão antropocêntrica que coloca o homem como o soberano, como se todos os problemas pudessem ser impedidos de ocorrer, bastando políticas públicas, tecnologia e investimentos, sem considerar a pequenez do ser humano diante de cenários catastróficos e atípicos que nos assolam como parte dos gemidos de um mundo que aguarda a revelação dos filhos de Deus (Romanos 8.19-22).

Outro ponto fundamental a ser elencado é lembrarmos nossos alunos que não existe neutralidade na ciência. Todo cientista tem seus pressupostos e nós como cristãos, quando pensamos em meio ambiente e sustentabilidade, precisamos direcionar nossos estudantes a entenderem que, na cosmovisão cristã, somos chamados a cumprir o mandato cultural de sermos bons mordomos, afinal: do Senhor é a terra e sua plenitude, o mundo e aqueles que o habitam – Salmo 24.1 e vamos prestar contas a Ele do que temos feito.

Assim, nós professores devemos ter em mente que nossos pressupostos são fundamentais para trabalharmos o tema em sala de aula, fugindo de uma perspectiva redentiva do ser humano como o centro, mas trazendo para os alunos a importância de nos envolvermos no mandato cultural, sem cairmos no panteísmo materialista que permeia a cosmovisão de muitos ambientalistas, mas entendendo que, apesar de sabermos que nações e grandes conglomerados tem uma parcela muito significativa em políticas econômicas e bélicas (em especial países desenvolvidos) que causam impactos ambientais negativos em escala global, lembrar que, na nossa esfera de atuação também temos responsabilidade individual sobre como nos portamos nesse mundo referente aos padrões de consumo, se agimos conforme o lema dos 5 Rs (repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar) entre outras atitudes práticas que envolvem a aplicação desse aprendizado.

Além disso, podemos estimular os estudantes a serem pesquisadores, apoiando-os até em seus Projetos de Vida (disciplina do novo Ensino Médio) para incentivar aqueles que se interessarem pelo assunto e orientá-los de quais carreiras e profissões podem continuar seus estudos e tornarem, quem sabe, futuras referências nessas áreas que estão carecendo de profissionais com uma cosmovisão cristã que possam trazer luz para esse tema tão relevante mas infelizmente muito secularizado, por uma quase unanimidade da perspectiva antropocêntrica, muitas vezes hipócrita de discursos sem de fato ser comprometido com mudanças concretas para a busca de um mundo melhor.

Precisamos temperar esse mundo e essa mudança começa com você professor, em sala de aula, guiando esses estudantes para atuarem nessa vocação, não cruzando os braços para a realidade desse mundo na qual somos chamados a cultivar e guardar. Que Deus nos dê graça e sabedoria nessa jornada!